quinta-feira, 11 de junho de 2015

Um espectro infinito, e humano

Durante os tempos ruins, eu compartilhei muitas coisas; histórias, medos, esperanças. E sempre imaginei que, quando os bons chegassem, a vontade de falar sobre meus sentimentos afloraria ainda mais - me libertando de vez das únicas cordas que me prendiam às minhas reservas particulares.

Ah!, Vai ser tão lindo um dia!

Nem tanto.

Acontece que não funciona desse jeito. Seja por medo da cobiça alheia, seja a autodefesa do ser humano ou tão somente a completude do sentimento, não é nada disso que acontece. Quer dizer, é lindo, é lindo sim, e muito. E, eventualmente, é muito bom sentar e falar sobre momentos felizes; mas compartilhar "detalhes da vida privada" perde boa parte do sentido quando você não está precisando ser consolado.

É um processo natural - por assimilação, mas ainda assim, natural - do ser humano buscar companhia - e nela, a identificação de aspectos em comum. E se poucas pessoas fogem à regra, é porque é realmente satisfatório - quase que indispensável -, para nós, nos comunicarmos com quem entende bem o que estamos querendo dizer. Mas, no que isso tem a ver com compartilharmos mais os sentimentos quando estamos tristes?

Tem que a tristeza é gananciosa, soberba, egoísta e convencida. É o sentimento que chega, se instala e te engole aos poucos, mas não menos dolorosamente. Não importa o quanto já tenha tomado, ela quer mais e mais de você, nunca se dando por contente; e, só pra prevenir, caso você consiga se livrar dela... as marcas são, na maioria das vezes, permanentes.

Já a felicidade é viva, contagiante, estimulante... mas ela também é reservada e sensível. Ela chega, e aos poucos, se acomoda no sofá. Ela é humilde, toma seu tempo sem querer atrapalhar; mas toma. Toma por ser um sentimento tão simples quanto complexo. Tão forte quanto é frágil. E, se você não recebê-la, ela vai embora tão de repente como chegou - sem avisar para onde foi.

E é justamente por tendermos a querer conservar o que é bom e, de toda a forma, espantar o que é ruim, que acabamos por compartilhar mais melancolia do que alegria; esperamos que falar sobre os sentimentos ruins os assuste e os faça fugir para longe, e não fazemos questão de falar sobre os bons por medo de que isso se aplique justamente a estes que, se você pudesse, não deixaria escapar de jeito algum.

Mas a felicidade e a tristeza são sentimentos contrários, não contraditórios. Se você sabe um pouco de filosofia lógica, sabe do que estou falando. De qualquer forma, uma olhada no dicionário e se vê a diferença: coisas contraditórias se opõem fortemente, são dois extremos - e, se uma existe, a outra não; já as coisas contrárias se opõem, também, mas apenas razoavelmente - a existência de uma não impossibilita a da outra, e vice-versa - e não são raros os momentos em que ambos sentimentos coexistem.

Não, nem tudo é necessariamente preto no branco.

E, no final das contas, o que acontece na maior parte do tempo é: não somos pura tristeza, nem pura felicidade. Somos isso e somos angústia, ansiedade, gratidão e desalento.
Somos esperança, medo, coragem e nostalgia.
Raiva, amor e desilusão.
Somos tudo.
Somos uma escala, um espectro, infinito.
Uma escala colorida, não de cinza. Não apenas de cinza.
Um equilíbrio - ou não - de tudo o que há para ser.
E não há nada de errado com a bagunça emocional - sinta-se você confortável com compartilhar a sua ou não, não há por que renegá-la.

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Sei que é chato isso, mas já que você não é um robô e - creio eu - tem sua opinião, não custa digitar umas palavrinhas, né? Agradecida :)