quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sobre a indomesticabilidade do narcisismo

Parece que o ser humano, o homo sapiens sapiens, ao nascer, é fadado a uma necessidade patológica e imutável à correspondência. Há poucas coisas mais frustrantes que um sentimento não-correspondido - e, vejam, não estou falando apenas de amor platônico. Digo de modo geral, desde uma gentileza não retribuída ou uma simples apatia à qual não se obtém nenhuma resposta satisfatória.

E, tão terrível quanto isto pode soar, por mais que boas almas altruístas dediquem suas existências ao próximo, somos narcisistas indômitos. Não me surpreende em nada que não haja uma palavra específica, um antônimo perfeito, para "narcisismo". As tentativas formam uma longa lista: discrição, modéstia, simplicidade, singeleza, humildade, despresunção, entre outros vários vocábulos que apresentam diferentes níveis de precisão. Entretanto, nenhum "ismo". Nenhuma síndrome. Alguém há de tentar me dizer, "Porque o narcisismo é anormal! É doente! É insano!"
E não somos nós todos?
E por acaso é, para nós, comum deleitar-se na própria derrota, com o simples prazer de sentir-se feliz por um estranho qualquer?
Você sabe a resposta.
Todos nós sabemos.

E, concluo, talvez não haja um "inverso" de narcisismo porque desejamos que apenas o obscuro, apenas aquilo que é ruim, se faça incomum; apenas o considerado ideal deve se fazer presente. É óbvio que não desejamos viver em meio ao mal.
Mas a bênção da inocência é temporária, e, logo depois, tende a tornar-se a maldição da ignorância.

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Sei que é chato isso, mas já que você não é um robô e - creio eu - tem sua opinião, não custa digitar umas palavrinhas, né? Agradecida :)