Ah!, Vai ser tão lindo um dia!
Nem tanto.
Acontece que não funciona desse jeito. Seja por medo da cobiça alheia, seja a autodefesa do ser humano ou tão somente a completude do sentimento, não é nada disso que acontece. Quer dizer, é lindo, é lindo sim, e muito. E, eventualmente, é muito bom sentar e falar sobre momentos felizes; mas compartilhar "detalhes da vida privada" perde boa parte do sentido quando você não está precisando ser consolado.
É um processo natural - por assimilação, mas ainda assim, natural - do ser humano buscar companhia - e nela, a identificação de aspectos em comum. E se poucas pessoas fogem à regra, é porque é realmente satisfatório - quase que indispensável -, para nós, nos comunicarmos com quem entende bem o que estamos querendo dizer. Mas, no que isso tem a ver com compartilharmos mais os sentimentos quando estamos tristes?
Tem que a tristeza é gananciosa, soberba, egoísta e convencida. É o sentimento que chega, se instala e te engole aos poucos, mas não menos dolorosamente. Não importa o quanto já tenha tomado, ela quer mais e mais de você, nunca se dando por contente; e, só pra prevenir, caso você consiga se livrar dela... as marcas são, na maioria das vezes, permanentes.
Já a felicidade é viva, contagiante, estimulante... mas ela também é reservada e sensível. Ela chega, e aos poucos, se acomoda no sofá. Ela é humilde, toma seu tempo sem querer atrapalhar; mas toma. Toma por ser um sentimento tão simples quanto complexo. Tão forte quanto é frágil. E, se você não recebê-la, ela vai embora tão de repente como chegou - sem avisar para onde foi.
E é justamente por tendermos a querer conservar o que é bom e, de toda a forma, espantar o que é ruim, que acabamos por compartilhar mais melancolia do que alegria; esperamos que falar sobre os sentimentos ruins os assuste e os faça fugir para longe, e não fazemos questão de falar sobre os bons por medo de que isso se aplique justamente a estes que, se você pudesse, não deixaria escapar de jeito algum.
Mas a felicidade e a tristeza são sentimentos contrários, não contraditórios. Se você sabe um pouco de filosofia lógica, sabe do que estou falando. De qualquer forma, uma olhada no dicionário e se vê a diferença: coisas contraditórias se opõem fortemente, são dois extremos - e, se uma existe, a outra não; já as coisas contrárias se opõem, também, mas apenas razoavelmente - a existência de uma não impossibilita a da outra, e vice-versa - e não são raros os momentos em que ambos sentimentos coexistem.
Mas a felicidade e a tristeza são sentimentos contrários, não contraditórios. Se você sabe um pouco de filosofia lógica, sabe do que estou falando. De qualquer forma, uma olhada no dicionário e se vê a diferença: coisas contraditórias se opõem fortemente, são dois extremos - e, se uma existe, a outra não; já as coisas contrárias se opõem, também, mas apenas razoavelmente - a existência de uma não impossibilita a da outra, e vice-versa - e não são raros os momentos em que ambos sentimentos coexistem.
Não, nem tudo é necessariamente preto no branco.
E, no final das contas, o que acontece na maior parte do tempo é: não somos pura tristeza, nem pura felicidade. Somos isso e somos angústia, ansiedade, gratidão e desalento.
Somos esperança, medo, coragem e nostalgia.
Raiva, amor e desilusão.
Somos tudo.
Somos uma escala, um espectro, infinito.
Uma escala colorida, não de cinza. Não apenas de cinza.
Um equilíbrio - ou não - de tudo o que há para ser.
E não há nada de errado com a bagunça emocional - sinta-se você confortável com compartilhar a sua ou não, não há por que renegá-la.